quarta-feira, 28 de julho de 2010

Heart Shaped Home


O meu coração - disse o poeta - é uma casa com muitos quartos, caiada pelos crepúsculos, soalho flutuante esvoaçante, telhas moldadas dos sedimentos da espera: os ideais que o Tempo teima em transformar, as pequenas promessas traídas, os vislumbres e as saudades do que não se viveu ou viverá jamais.


O poeta decalca o mundo sobre uma folha de papel animal, e procura perder os nomes às coisas porque - Os nomes escondem as coisas como uma caixa de cartão onde se lê “Este lado para cima” em todos os lados.


O meu coração é uma casa com muitos quartos, ocupados por gente que partilha o mesmo rosto, o meu, mas se distingue pela cor dos olhos e pelas colecções que faz.


O poeta aprendeu a dormir com os pés de fora da cama para melhor voar enquanto sonha e a cobrir-se com a previsão meteorológica dos jornais de amanhã – Temperaturas amenas, leve brisa com cheiro a terras distantes.


O meu coração é uma casa com muitos quartos e grandes varandas viradas a Ti, que desconheço e me iluminas. Quando chove, o meu coração é um barco e deriva; Varanda-Bote-Salga-Vidas…


O poeta já não procura a verdade – Nuvens ao vento, coelho.. rosto de velha.. foguetão rumo à lua - mas algo em que acreditar - A esperança é uma manta de retalhos à procura de linhas com que se cosa.


O meu coração é uma casa, construída quarto a quarto, por mãos inquietas que sempre ignoraram quem lhes determina o gesto e que nunca irão reconhecer a Paz que encontram repousadas no contorno de um outro corpo.

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